Funções do “se”: reflexivo e recíproco

         Já tratei em nosso site sobre outras funções do se (partícula apassivadora e índice de indeterminação do sujeito). Neste texto, abordarei mais duas: pronome reflexivo e recíproco.

                Inicialmente, é preciso destacar que somente quando o se exerce essas funções é que ele tem função sintática. O se reflexivo ou recíproco desempenha a função de complemento verbal, isto é, objeto direto ou objeto indireto.

Se reflexivo

                Há dois aspectos para detectar o se reflexivo: sintático e semântico. Em relação ao sintático, é fundamental saber que esse se só se relaciona com verbo transitivo direto, com verbo transitivo indireto ou com verbo transitivo direto e indireto (bitransitivo). Por conseguinte, tal termo desempenha a função, como dito, de objeto direto ou objeto indireto.

                No que se refere ao aspecto semântico, deve-se considerar que o se reflexivo indica que o sujeito pratica e sofre a ação, ou seja, ação por ele praticada recai sobre ele mesmo. Vem daí o nome reflexivo e a indicação de substituição do se, nesta hipótese, por a si mesmo (ou a ele mesmo).

                Vejam-se os exemplos:

A promotora observou-se atentamente. (O se é objeto direto.)

O deputado se batia. (O se é objeto indireto.)

O réu reservou-se o direito de ficar calado. (O se é objeto indireto.)

                Perceba que há relação com verbo transitivo direto (observar), com transitivo indireto (bater) ou com verbo bitransitivo (reservar). Ademais, há noção reflexiva: A promotora observou a si mesma; O deputado bate em si mesmo; O réu reservou a si mesmo o direto de ficar calado.

Se recíproco

                Este se é muito semelhante ao se reflexivo. Tanto é assim que o gramático Napoleão Mendes de Almeida o chama de pronome reflexivo recíproco. Dessa forma, considere todos os aspectos sintáticos apresentados (relação com VTD, VTI ou VTDI e, assim, função de OD ou OI).

                A diferença entre os pronomes consiste na noção de reciprocidade, ou seja, na ideia de que é necessário que haja mais de um agente e, consequentemente, de um paciente. Por isso, aqui o se pode ser substituído por uns aos outros. Confiram-se estes exemplos:

As enfermeiras se beijam emocionadas. (O se é objeto direto.)

Os advogados se cumprimentaram. (O se é objeto direto.)

                Perceba que o sentido da primeira frase é que a enfermeira A beija a enfermeira B (e vice-versa). Em outras palavras, as enfermeiras beijam umas as outras. Na segunda, os advogados praticam a ação e, ao mesmo tempo, recebem-na – os advogados cumprimentam uns aos outros.

            Portanto, é fundamental que haja, para a ocorrência do se recíproco, mais de um agente (e paciente). No entanto, a depender do contexto, isso pode não ser suficiente:

As crianças se olharam.

                Caso se entenda que a criança A olhou a si mesma (e, da mesma forma, B olhou a si mesma), há o se reflexivo. Diferentemente, se a A olhou para B (e vice-versa), é hipótese de se recíproco.

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