Saber se o verbo fica no singular ou no plural quando ele está junto ao “se” requer apenas domínio de transitividade do verbo. Quem é meu aluno sabe que normalmente não falo de nomenclatura gramatical. No entanto, em relação a esse tipo de concordância, é preciso compreender alguns aspectos gramaticais. Vou dedicar o texto às possibilidades de índice de indeterminação do sujeito e de partícula apassivadora.
Quando o verbo é transitivo indireto, intransitivo ou de ligação, está junta ao “se” e não há sujeito relacionado ao verbo, ocorre indeterminação do sujeito. Viu que são três requisitos?
Veja:
O médico se tratou do problema.
Consegue ver que, apesar de haver verbo transitivo indireto e o “se”, existe sujeito relacionado ao verbo (o médico)? Assim, não há muito o que pensar: como há sujeito, o verbo com ele concorda. É diferente, contudo, disto:
Trata-se de grave problema.
Precisa-se de regras claras.
Cuida-se de recursos especiais.
Foi-se feliz no passado.
Vive-se melhor na praia.
Agora, não há sujeito relacionado ao verbo. Além disso, há verbo transitivo indireto (nos três primeiros casos), verbo de ligação (quarta frase) e verbo intransitivo (último exemplo), que estão junto ao “se”. Ocorre, portanto, indeterminação do sujeito. O que isso significa? O verbo não pode ser flexionado no plural, já que não há sujeito relacionado a ele. Entende por que as frases 2 e 3 ficaram no singular? Os termos “de regras claras” e “de recursos especiais” não são sujeito, mas complemento do verbo. Ter essa noção sintática traz a clareza para não existir flexão do verbo.
Quando o verbo transitivo direto e bitransitivo (transitivo direto e indireto) está junto a “se”, acontece processo distinto do mencionado anteriormente. Nesse caso, há sujeito e, por conseguinte, é possível ocorrer flexão do verbo. Viu como é importante ter a noção de sintaxe?
Descobriu-se o segredo.
Resolveram-se os problemas.
Entregaram-se os documentos ao encarregado.
Nos dois primeiros casos, ocorreu verbo transitivo direto; no segundo, um bitransitivo. Nas últimas sentenças, o verbo foi flexionado porque há sujeito. Sim, os termos “os problemas” e “os documentos” são sujeito na oração em que estão. Assim, como estão no plural, o verbo com eles concorda. As frases estão na voz passiva sintética. O “se” é classificado como partícula apassivadora. As frases podem ser consideradas na voz passiva analítica (“o segredo foi descoberto”, “os problemas foram resolvidos” e “os documentos foram entregues ao encarregado”).
Ressalto, por fim, frases que acontecem muito na linguagem jurídica:
Publique-se.
Arquivem-se.
Confiram-se os precedentes.
Nelas, o verbo é transitivo direto. Há voz passiva, portanto. Na segunda e na terceira, o verbo ficou no plural porque o sujeito está no plural (“os autos” e “os precedentes”).