No último texto, vimos o uso da vírgula no período simples. Agora, vamos tratar do uso da vírgula no período composto, isto é, quando há dois ou mais verbos no enunciado. Para isso, lembre-se de que o período composto pode se organizar em orações subordinadas e orações coordenadas.
Uso da vírgula em orações subordinadas
No período composto por subordinação, a vírgula é utilizada para:
- Isolar orações subordinadas adjetivas explicativas:
Seu Nepomuceno, que travava uma briga há anos com D. Filomena, desistiu da demanda.
Atenção! As vírgulas podem ser substituídas por travessões ou por parênteses, sem alteração sintática e semântica.
2. Separar orações subordinadas adverbiais, de modo obrigatório quando elas estão antepostas ou intercaladas à principal:
Se houver interesse, creio que fecharemos o negócio.
A mulher, quando viu sua irmã, suplicou auxílio.
Não compreendia o chefe, já que nunca o fora.
Veja que, nos dois primeiros casos, as vírgulas são obrigatórias (na primeira sentença, a oração adverbial está anteposta; na segunda a oração adverbial está intercalada).
Atenção!
1. Diferentemente do que ocorre no período simples, o tamanho do termo adverbial não é importante para o uso da vírgula. Aqui, em que há oração, o que vale é a posição – se antes ou depois da oração principal: Se beber, não dirija. Viu que a oração é pequena, mas a vírgula depois de beber é obrigatória?
2. Para fazer a pontuação em orações subordinadas substantivas, basta considerar as funções sintáticas por elas exercidas. Não se separam por vírgula da oração principal as orações subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas, completivas nominais e predicativas — afinal, sujeitos, complementos verbais e nominais não são separados por vírgulas dos termos a que se ligam; isso também se pode dizer do predicativo, nos predicados nominais. Compare estes exemplos:
Acredite, que a fé é a última que morre.
Acredite que a fé é a última que morre.
No primeiro caso, a vírgula foi utilizada para introduzir uma explicação ao que foi sugerido (acredite). Ou seja, a vírgula separa orações coordenadas, nas quais que a fé é a última que morre é coordenada sindética explicativa. No segundo exemplo, que a fé é a última que morre é complemento do verbo acredite e, assim, é oração subordinada substantiva objetiva direta. Por fim, destaco que a oração subordinada substantiva apositiva deve ser separada da oração principal por vírgula ou dois pontos, exatamente como ocorre com o aposto.
Fiz uma recomendação, que se portasse dignamente.
Peço-lhe uma providência: que administre melhor os recursos da instituição.
Uso da vírgula em orações coordenadas
No período composto por coordenação, a vírgula é utilizada para:
- Separar orações coordenadas assindéticas:
Acendeu um cigarro, gritou exasperadamente, fugiu para os montes.
2. Separar orações coordenadas sindéticas, salvo as introduzidas pela conjunção e:
Ninguém me ouviu, mas falei mesmo assim.
Não corras, que a chegada já se avizinha.
Atenção!
1. Lembra-se do caso de vírgula e e? Vou trazer novamente a informação que apresentei na parte 1. Quem já viu pode pular para o ponto 2. A vírgula pode anteceder a conjunção e em três hipóteses: a) quando o sujeito das orações for distinto, sendo obrigatório seu uso quando houver ambiguidade: A vocação da sociedade é a geração de bem-estar, e o Estado precisa corresponder a isso. Veja que, nesse exemplo, a inserção da vírgula é imprescindível para destacar que o Estado é sujeito de precisa, não complemento de geração ou, ainda, predicativo de é; b) quando a conjunção e está repetida (polissíndeto), sendo o uso da vírgula opcional: E eles riem, e eles dançam, e eles gritam, e eles brigam; c) quando a conjunção e tiver sentido de mas, isto é, se tiver valor adversativo (uso da vírgula obrigatório): Não pediu nada, e o governo lhe deu terras produtivas. Correu 20km, e não ficou cansado.
2. Quando há oração em que ocorre conjunção adversativa ou conjunção conclusiva, as frases podem ser dispostas da seguinte maneira; há oito possibilidades:
1. Nunca lhe disseram a verdade, portanto em nada acreditava.
2. Nunca lhe disseram a verdade, em nada, portanto, acreditava.
3. Nunca lhe disseram a verdade; portanto em nada acreditava.
4. Nunca lhe disseram a verdade; portanto, em nada acreditava.
5. Nunca lhe disseram a verdade; em nada, portanto, acreditava.
6. Nunca lhe disseram a verdade. Portanto em nada acreditava.
7. Nunca lhe disseram a verdade. Portanto, em nada acreditava.
8. Nunca lhe disseram a verdade. Em nada, portanto, acreditava.
3. Vou lhe dizer cinco importantes informações sobre as sentenças acima: a) as regras mencionadas servem para conjunções adversativas e conclusivas; b) as orações com as referidas conjunções podem ser separadas por vírgula (frases 1 e 2), por ponto e vírgula (frases 3, 4 e 5) e por ponto-final (frases 6, 7 e 8); c) a conjunção apenas fica entre vírgulas (frases 2, 5 e 8) quando ela estiver deslocada; d) se houver separação por ponto e vírgula e ponto-final, a conjunção pode ou não ser isolada por vírgula (frases 3 e 4, 6 e 7).
3. Isolar as orações intercaladas:
Se o alienista tem razão, disse eu comigo, não haverá muito que lastimar o Quincas Borba.